Sunday, June 30, 2013

A Bolsa-Crack

Outra coisa que me chamou a atenção entre os milhares de mentiras que eu vejo sendo propagadas pelo Facebook é a indignação das pessoas contra o que é chamado Bolsa-Crack.

Segundo o que é divulgado pelo Facebook (e outras redes sociais), o Governo doará R$1.350,00 por mês (isso aí, mais de mil reais) para os viciados em crack.

Nossa, que lei absurda! Enquanto um pai de família tem que ralar todo dia, pra ganhar, bruto, R$678,00, um vagabundo que não faz nada, só fica se drogando, recebe o dobro disso. É realmente de se indignar. É o tipo de informação que tem que ser repassada para todo mundo saber que o governo incentiva a vagabundice.

Seria.
Se fosse verdade.

Vamos aos fatos.

1. O bolsa-crack realmente existe. Mas não é um programa do governo federal (Dilma). É um programa de alguns governos estaduais. Até onde eu sei, só existe em dois estados. Em Minas Gerais (do Aécio Neves, hoje governado pelo Antonio Anastacia, ambos do PSDB) e em São Paulo, do governador Geraldo Alckmin, também do PSDB).

2. Em Minas Gerais, o valor do Bolsa-Crack é de R$900,00 por mês. Em São Paulo, R$1.350,00

3. Por serem programas dos governos estaduais, só atendem os moradores desses estados. Não adianta você, que mora em Pernambuco ou Paraná, começar a usar crack para receber esse dinheiro.

4. Por serem programas dos governos estaduais, os recursos para isso são tirados do orçamento dos estados. Ou seja, não sai um único centavo do bolso do catarinense nem do baiano, para o bolso de um viciado paulista

5. Não é todo mundo que é beneficiado pelo programa. Com certeza, deve haver critérios de seleção, os quais eu desconheço.

e o principal:

6. O dinheiro NÃO VAI PARA O BOLSO DO USUÁRIO de drogas. O dinheiro vai para clínica particulares especializadas em tratamento, para internar e tratar o dependente. Ou seja, o viciado não vê um único centavo.

Mesmo assim, o projeto não deixa de ser polêmico. Eu mesmo, não sei se sou a favor ou contra. E quem já leu meus outros posts, sabe que eu não sou fã do PSDB. Mas nem por isso vou atacar de graça as propostas dos políticos desse partido. 

Por um lado, é gasto de um dinheiro que poderia estar sendo usado para dar uma vaga de UTI para uma criança vítima de incêndio, ou uma mulher grávida que sofreu um acidente de automóvel, ou seja, pessoas "de bem" (seguindo a linha conservadora de gente intolerante e raivosa, que todo usuário de droga é uma pessoa "do mal") podem estar morrendo porque o governo está gastando dinheiro com pessoas que "foram para o mau caminho porque quiseram" (também seguindo o pensamento medíocre, raivoso e intolerante que parece se espalhar pela classe média como uma gripe).

Mas olhando por outro lado, não dá pra negar que o Crack tem um custo altíssimo para a sociedade. O problema do crack é que ele não destrói somente a vida daqueles que "escolheram" esse caminho. Destrói também as famílias deles, aumenta - e muito - a criminalidade (inclusive latrocínios), desvaloriza imóveis localizados em áreas onde usuários se reúnem ('crackolândias'), atrapalha o comércio, enfim: é uma desgraça para a sociedade. E não tenho dúvidas de que para a sociedade custa bem menos deixar um viciado internado por seis meses, do que deixá-lo solto pelo resto de sua vida. Afinal, um pai de família que nunca nem sentiu o cheiro do crack pode, a qualquer momento, ser morto por um viciado que precisa de 20 reais para comprar uma pedra ou duas.

O valor é que chama a atenção. Dois salários mínimos para manter um cara internado? Sendo que tem muita família com quatro, cinco pessoas, que tem que se virar com metade disso. É justo?

Bom, não sei. Não se pode afirmar que não tem alguém levando uns 10 ou 20% nisso. Mas não vou contar com isso. Tenho a incorrigível mania de confiar na boa vontade e na honestidade das pessoas. Então vamos supor que não.

Mas não tenho dúvidas de que, se o governo, em vez de pagar clínicas particulares, resolvesse criar suas próprias clínicas públicas para esse fim, o custo seria bem menor.

Mas de novo defendendo o governo, se isso acontecesse, logo iriam surgir vozes gritando contra a criação de mais uma estatal, 'cabide de emprego', etc e tal. Pelo menos, se fosse com o governo do PT, não há dúvidas de que imediatamente surgiria essa reação, não estou certo? Se não concorda, imagine se a Dilma anunciasse na TV a criação de uma secretaria antidrogas e que destinasse R$1 bilhão para a construção e manutenção de clínicas para internação de viciados. Imagine quanta gente ia cair de porrada em cima.

Levando em conta o prós e os contras, não sei, se estou a favor ou contra essa ideia do bolsa-crack. Acho que sou ligeiramente a favor, mas teria que conhecer melhor o programa.

Mas o importante que você tem que saber é:
1. NÃO é uma iniciativa do governo FEDERAL, e sim de alguns governo estaduais.
2. O dinheiro vai para as CLÍNICAS - NÃO PARA OS PACIENTES.
3. Se você não mora em Minas ou São Paulo, a origem e destino do dinheiro gasto para isso NÃO É DA SUA CONTA (trocadilho que é verdade em todos os sentidos da expressão).

E é isso.

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